ROSA ANTÚRIO

14/02/2022 16:57

 

Fonte: CRIAR É LIBERDADE E PODER. PARTOS/ NASCIMENTOS E BENZEDEIRAS/  AMAZONIA REAL

1º ato

“Salve nossa senhora de rosário”, um velho Arthur me cumprimentava. Ele me reconheceu de longe, estava lá perto das raízes que abençoa o berço da humanidade.

A Mestiza indígena, também, tinha o avó, preto. O outro lado da história.

O lugar da fronteira racial é o lugar da encruzilhada das territorialidades,

Aguenta guerras, não faz o conflito, existir já era o suficiente para o mito cair...

No rosário de minha senhora ouvi tudo.

Acolhida do útero que me criou das raízes da cabeça da matrilinear do meu pai.

Aquele pobre e miserável migrante do rio Mojú, caboclo ribeirinho.

Suas raízes mais profundas vinha do alto rio mutuacá que pesavam na balança. Não houve registro na antigo povoação de brancos. “Nasci nas matas, nunca tive senhor”, vovó desse rio dizia.

E me afastei da melhor compreensão uterina de mim;

Aquele útero antigo vivia com outras pessoas, outro endereço.

Já não era mais rebelião

Sair da rota da escravidão e da violência.

Era esse o pedido.

Lágrimas secaram antes do choro.

 E lá foi fundado um hospício, a secretaria fazia fraturas e intrigas

Todas que ficaram ali fundaram-se cara das personagens Marcela Patrícia em um remake do canto das 3 raças.

E seus 75% de álcool em contágio.

Parecia um conto do Monteiro Lobato num revival de casa grande e senzala.  E o paternalismo do senhor de engenho cultuado por seus herdeiros ...quase todos sacos escrotais.

Da herança colonial o clientelismo vigente na cidadania frágil de indígenas;

O movimento nativo que luta guerreiro..., mas, também, tinha o movimento nativo do pacto social e do silenciamento da produção do conhecimento vigente...do sorriso meia boca. Sem triunfos para os cabeças antigas das origens de Abya Yala...

Presos no topo da Pirâmide social. Não era luar da pajelança cabocla de pindorama ou nem o clarão do seu tranca rua...era apenas a injúria,

A calúnia...não se criou para ser verdade.

Peles brancas, máscaras indígenas. Traumatismo craniano.

Mas alguma coisa estava fora da nova ordem...dos herdeiros.

“Não era campeonato mundial”, dizia, o Arnaldo Alezandro Pires ...

Retruquei: é que saco vazio não enxerga fora das conversões!

 

 

2º ato

Seguir em frente...não estava mais sozinha.

Eram tempos de plantios, chovia em dias de sol.

A natureza gera vida, a casa coletiva movimenta-se...

Até que chegou dia de fixar. Terra molhada de saberes organizados.

Reconhecidos dentro da lei.

De noite a lua vinha e me dizia que chegava a hora da mudança.

Depois de mais uma viagem já agendava: as horas.

 

 

3º ato

Não havia relógio e nem caixa de papelão da classe média.

Ainda que clandestinos para as faces mundiais sem roteiros coletivos organizados,

Sem jardim dos povos; sem planos...

Só havia aquela nota de 100 reais ali naquele bolso...olhos borrados de rímel, calcinha preta cavada mal incorporada...armada? Não...apenas um pau sem eixo para servi de leme.

Descolonizada? Não. De forma alguma. A descolonização é um projeto muito fora do status quo.

 Decolonial? Descaravelizados?  Diziam que sim, mas algo que só do gabinete para baixo. Só do altos dos prédios legalistas sem clandestinidade. Ninguém entendia o que contava aquela nota de dinheiro.

Um cabano bem atento, observava, sorria, cantarolava Gilberto Gil.

Viajamos pela rota da liberdade e das (r) existências coletivas e de nossos pertencimentos não trocados pelas migalhas e nem pelo ouro de tolo do gabinete decolonial da etnologia colonial.

Entre mortos e feridos, os sobreviventes seguiam viagem.

Roupas para os dias de batalha, não vinham das grifes, tudo com seu próprio custo e auto sustentável, tingidas de vermelho, pintadas com a base da casca de muruxi; e certamente incorporados com seus tradicionais chapéus de palha de seus afazeres cotidiano, seja em dias de puxirum, seja em dia de roça ou em dias de colheitas...em fases lunares, a noite em satélite religa-os com ela, nenhuma estrela no escuro, todas brilhavam...não haviam noites naquele religare na escuridão. Apenas claridade.

Retomávamos a cabanagem, sem os letrados de Batista Campos, sem os fazendeiros de Felix Malcher e sua traição aos povos famintos; sem a camisaria da tropas nativas originárias incorporadas ao discurso legal para destruir a outra história... Por outro lado nas trincheiras do comando comunitário, todos aquelas lideranças com seus troncos, membros, e cabeças não cortadas! Ah, os povos em toda sua pluralidade, rebeldia questionadora e inconveniente, com verdades constrangedoras e em emersão étnica de diversas identidades étnico-raciais coletivas e submersas interligavam-se nessa nau da retomada; tal qual Eduardo Angelim foi pau de dar em doido, rosa antúrio reconstitua fraturas ósseas, naturalmente solitária, perenemente coletiva, despertava hidras e pântanos.

Ainda que “(...) como a haste fina, que qualquer brisa verganenhuma espada corta”.